WGO Practice Guideline:
Março de 2019
Review Team
Juan Malagelada (Coordenador, Espanha)
Nalini Guda (Co-Coordenador, EUA)
Khean-Lee Goh (Malásia)
Thilo Hackert (Alemanha)
Peter Layer (Alemanha)
Xavier Molero (Espanha)
Stephen Pandol (EUA)
Masao Tanaka (Japão)
Muhammed Umar (Paquistã)
Anton LeMair (Países Baixos)
(Clique para expandir secção)
Em pacientes com cistos com características de baixo risco:
- Continuar a vigilância não invasiva no mínimo durante 5 anos, com base em algumas das diretrizes, embora o risco a longo prazo para o desenvolvimento de malignidade não seja muito claro.
- Considerar idade e comorbidades do paciente e continuar a vigilância segundo o caso até haver melhor evidência para a interrupção definitiva da vigilância e estratificação do risco.
- É preciso considerar as preferências do paciente e sua consciência do risco. Em pacientes com cistos indeterminados:
- Vigilância com análise do líquido cístico e/ou características das imagens.
* A AAF não pode ser realizada se a lesão estiver no corpo pancreático ou na cauda se houver qualquer preocupação com malignidade, devido ao risco de disseminação ao longo do trajeto da AAF que não pode ser abordada pela cirurgia subsequente. Em pacientes com lesões no corpo ou na cauda, o estômago não é removido, enquanto naqueles com lesões na cabeça pancreática, o duodeno é removido na cirurgia.
Cascatas da WGO: conjunto hierárquico de opções diagnósticas, terapêuticas e de manejo para lidar com risco e patologia, classificadas segundo os recursos disponíveis.
As diretrizes e cascatas da WGO visam destacar as opções de manejo apropriadas sensíveis ao contexto e aos recursos disponíveis em cada área geográfica, independentemente de ser considerada “em desenvolvimento”, “semidesenvolvida” ou “desenvolvida”. As cascatas da WGO oferecem opções que não dependem necessariamente apenas da disponibilidade de recursos; podem, por exemplo, incluir também os fatores de custo e benefício, preferências do paciente bem como a disponibilidade de equipamentos, habilidades e experiência.
A maioria dos cistos incidentais assintomáticos são diagnosticados em países com recursos disponíveis quando a imagem está sendo realizada para avaliar sintomas não necessariamente relacionados à doença pancreática. Para a região asiática do Pacífico, por exemplo, dois artigos recentes da Coréia e do Japão, ambos os países ricos, relatam taxas de incidência de cistos assintomáticos de 2,2% e 3,5% [1,2]. Em países de baixos recursos, a maioria dos diagnósticos é estabelecida no momento da cirurgia ou da autópsia.
Por conseguinte, os autores desta diretriz optaram por não utilizar o padrão convencional em “cascata“, mas sim por fazer recomendações com base na evidência atual. Entendemos que todos os recursos não estão disponíveis em todos os lugares, e uma decisão consciente deve ser tomada em conversa com o paciente sobre o risco de malignidade, recursos disponíveis e custo.
Esta diretriz visa fornecer aos médicos de todo o mundo uma abordagem sensata e atualizada para o manejo das lesões císticas pancreáticas. Uma vez que os recursos diagnósticos e terapêuticos pertinentes não estão uniformemente disponíveis em diferentes áreas do mundo, estas orientações devem ser utilizadas conforme adequado, considerando os recursos locais e as preferências dos pacientes.
“Lesões císticas pancreáticas” é uma designação convencional de uma lesão bem definida no pâncreas com conteúdo líquido. A maioria das lesões pequenas são detectadas incidentalmente quando o rastreamento é realizado para avaliação de indicações ou sintomas não relacionados com o pâncreas. A etiologia dos cistos pancreáticos é variável; podem ser inflamatórios ou pós-traumáticos, ou podem não ter etiologia conhecida. Apesar da maioria das lesões pequenas serem benignas, algumas lesões podem levar à malignidade e, portanto, à necessidade de mais estudos, vigilância e decisões terapêuticas. Por isso, é preciso obter uma boa anamnese do paciente e avaliar a natureza da lesão através de pesquisas adequadas, se necessário, a fim de avaliar o risco de malignização. Uma vez que as lesões potencialmente malignas não podem ser distinguidas de forma fiável das lesões benignas, com base apenas nas características clínicas e morfológicas, pode ser necessária uma avaliação e/ou vigilância adicionais.
As lesões císticas pré-malignas do pâncreas incluem neoplasias císticas mucinosas (NCM) e neoplasias mucinosas papilares intraductais (NMPI). Como indicado acima, algumas lesões císticas pancreáticas podem evoluir para adenocarcinoma do pâncreas [3].
Como o adenocarcinoma ductal pancreático (ADP) e os tumores pseudopapilares raramente se apresentam como lesões císticas, eles não são abrangidos pela presente diretriz.
Os pseudocistos pancreáticos (que não têm epitélio) ocorrem geralmente em pacientes com história de pancreatite ou traumatismo. Os pseudocistos são benignos e muitas vezes regridem espontaneamente sem necessidade de intervenção, a menos que sejam sintomáticos; eles também não são objeto desta diretriz. No entanto, é importante garantir que a lesão seja de fato um pseudocisto e não um verdadeiro cisto pancreático. Embora o tratamento de lesões benignas ou obviamente malignas seja menos ambíguo, o melhor tratamento para lesões de risco indeterminado ou de risco médio é pouco claro, e estas diretrizes esperam fornecer orientação sobre a terapia e manejo adequados.
Os cistos pancreáticos são frequentemente assintomáticos; são muitas vezes benignos, mas alguns têm potencial maligno.
As lesões císticas pancreáticas podem ser classificadas como:
As neoplasias císticas pancreáticas podem ter potencial maligno, incluindo NCM e NMPI. Alternativamente, elas podem não ter potencial maligno; estas incluem neoplasias císticas serosas (NCS). As lesões císticas benignas podem ser tratadas de forma conservadora, enquanto aquelas com potencial maligno significativo precisam de intervenção cirúrgica [4].
A tabela 2 apresenta a classificação histológica dos cistos pancreáticos da Organização Mundial da Saúde (OMS), que também inclui neoplasias sólidas pseudopapilares.
Origem das lesões: relevante para o tratamento das lesões precursoras:
Muitos concordam que a principal diferença entre a NMPI e a NIPan é o tamanho: as lesões NIPan são microscópicas planas ou papilares que surgem nos pequenos ductos pancreáticos intralobulares; geralmente inferiores a 5 mm de tamanho, formam muito raramente estruturas císticas, e são geralmente indetectáveis em imagens transversais ou em USE. Maire e col. [14] tentaram correlacionar os achados da USE com a histopatologia em uma população selecionada. Quando a lesão é maior que 10 mm, NMPI é o termo preferido, enquanto abaixo de 10 mm o termo “dilatado” é o adequado. As dúvidas têm sido expressas quanto à caracterização histológica das lesões entre 0,5 e 1 cm. Marcadores moleculares, genéticos ou epigenéticos podem ser úteis para diferenciar entre NIPan e NMPI [3,14].
A lista a seguir destaca aparências potencialmente confusas, particularmente comuns, que precisam ser consideradas no diagnóstico diferencial:
A maioria dos cistos pancreáticos são assintomáticos e são descobertos incidentalmente na imagem de diagnóstico realizada por um sintoma ou razão não relacionada. Em uma minoria de casos, a apresentação inicial pode ser devida a um cisto sintomático manifestando-se como pancreatite aguda, sangramento, icterícia ou massa palpável. Em áreas do mundo nas quais a tecnologia avançada para diagnóstico por imagem não está disponível ou é aplicada com critérios mais restritos, as lesões císticas pancreáticas podem ser descobertas em fase mais tardia, mas isso geralmente implica um tamanho maior ou progressão para neoplasia.
Em pacientes com cisto sintomático, a dor é a manifestação mais comum. A dor pode alertar o médico para uma maior probabilidade de malignidade, exceto nos pseudocistos pós-pancreatite, e o risco de malignidade pode estar relacionado com a duração dos sintomas [15,16]. Outros sintomas incluem icterícia, náuseas e vômitos secundários à compressão do estômago, ou obstrução da saída gástrica provocada pela compressão extrínseca do lúmen duodenal.
Pacientes com NCM também podem apresentar dor, tumor abdominal ou perda de peso que pode estar presente há anos antes do diagnóstico [17]. No entanto, a maioria das NCM é descoberta em imagens transversais em pacientes na verdade assintomáticos.
Entrevista paciente: história e antecedentes
Apresentações clínicas potenciais relacionadas a tipos específicos de cisto: deve-se notar que a maioria dos pacientes com cistos pancreáticos são assintomáticos.
O número crescente de pacientes em todo o mundo com cistos descobertos incidentalmente exige aperfeiçoar as recomendações referentes aos exames imagiológicos necessários [6,8].
A abordagem dos cistos pancreáticos continua a ser problemática, devido à falta de boa informação sobre a história natural da entidade, poucos estudos publicados com dados de acompanhamento a longo prazo e possível viés, uma vez que a maioria dos relatórios são de centros especializados no tratamento de distúrbios pancreatobiliares.
As tecnologias em evolução, tais como análise molecular (marcadores moleculares, testes genéticos) com resultados de teste de primeira linha (citologia, imagiologia e química de fluidos) podem ser mais precisas na determinação do potencial maligno dos cistos pancreáticos do que os métodos de diagnóstico atuais [20]. Até à data, porém, nem todas as técnicas disponíveis estão rotineiramente incluídas na prática clínica.
Pacientes com lesões císticas pancreáticas devem ser avaliados com especial atenção a:
Convencionalmente, pequenas lesões (<2 cm) com características não complicadas requerem avaliação diagnóstica relativamente limitada e podem ser controladas com observação e acompanhamento. Na outra extremidade do espectro, lesões grandes com componente sólido significativo ou características de dilatação ductal podem ser consideradas para cirurgia rápida, a fim de evitar procedimentos complicados e caros.
O grupo intermediário de lesões são aquelas nas quais uma avaliação cuidadosa e aprofundada pode ser mais apropriada, uma vez que a cirurgia envolve riscos significativos de morbidade e mortalidade
5.2.1 Exames laboratoriais
Não existem testes sorológicos específicos disponíveis para avaliar lesões císticas pancreáticas; CA-19-9 sérico pode ser elevado em lesões císticas malignas, enquanto os níveis elevados de amilase e lipase são observados em cistos sintomáticos com pancreatite concomitante. Veja também as tabelas 4 e 5.
5.2.2 Exames imagiológicos
Exames imagiológicos são realizados para obter uma melhor caracterização dos cistos. Os métodos utilizados dependem, portanto, do método de imagem inicial que detectou a lesão em questão.
Se os recursos são limitados, a melhor escolha para avaliar os cistos pancreáticos é a TC.
Protocolo para a TC do pâncreas:
Protocolo para colangiopancreatografia por ressonância magnética (CPRM):
A ultrassonografia endoscópica (USE) ou (ecografia endoscópica) é altamente precisa e:
Colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE):
5.2.3 Biopsias—análise do líquido cístico
AAF guiada por USE
A aspiração por agulha fina pode ser realizada com orientação da USE para avaliação citológica e drenagem de líquido cístico, a fim de distinguir entre lesões serosas e mucinosas. Quando disponível, a AAF guiada por USE é o método preferido, ao contrário da aspiração percutânea com orientação por TC ou ultrassom.
Citologia, esfregaços
Análise do líquido cístico. Quando o fluido é aspirado, os seguintes testes são recomendados na sequência descrita, dependendo do volume do aspirado:
Avaliar as seguintes características de risco ajuda a decidir entre as opções de observação e a cirurgia. Os pacientes com no mínimo dois destes fatores de risco têm cerca de 15% de probabilidade de desenvolver neoplasia pancreática:
Outros fatores também podem ser preditivos de um maior risco de malignidade [31–38]:
Além disso, malignidade pode se desenvolver no pâncreas remanescente após ressecção pancreática parcial devida a uma lesão neoplásica prévia, visto que as alterações pré-malignas podem ser multifocais. De acordo com Lafemina e col. [39], o risco de apresentar câncer invasivo em outras partes do pâncreas em pacientes com NMPI é de 2,8%.
Os riscos da cirurgia podem ser importantes, com risco de mortalidade de 2% e risco de morbidade de até 40%; estes riscos devem ser ponderados em relação aos riscos de malignidade avaliados em relação às características listadas acima. A idade e comorbidades do paciente devem ser sempre levados em conta, uma vez que se trata de modificadores de risco cruciais.
6.1.1 Indicações para avaliação com especialista
Cistos pancreáticos podem ser frequentemente detectados incidentalmente em exames imagiológicos de corte transversal solicitados como parte da avaliação de sintomas não específicos abdominais ou não gastrointestinais. Nesta fase inicial de descoberta, um médico de clínica geral, internista ou cirurgião pode assumir a responsabilidade principal para avaliar a condição.
Cistos sem complicações que são pequenos (<2 cm) e não têm qualquer estigma maligno óbvio pode não exigir uma consulta com especialista, uma vez que a observação a intervalos previamente detalhados é considerada apropriada.
Avaliação, tratamento e acompanhamento podem ser feitos com observação e vigilância se o diagnóstico foi estabelecido de forma confiável.
Cistoadenomas serosos são uniformemente benignos. Lesões mucinosas, contudo, são consideradas pré-malignas. O risco de malignidade parece ser maior em lesões que são maiores do que 3 cm no momento do diagnóstico, no qual a cirurgia é, portanto, recomendada. Lesões menores podem ser monitoradas.
Infelizmente, a capacidade de diferenciar confiavelmente as lesões serosas das mucinosas no pré-operatório é limitada. Em alguns estudos, a precisão diagnóstica dos estudos radiológicos tradicionais destas lesões, como a TC ou ultrassom, é de apenas 10–15%. Além disso, a parede do cisto é muitas vezes parcialmente desnudada, de modo que mesmo a biópsia intraoperatória não é confiável. A tabela 7 lista os estigmas de alto risco e as características preocupantes.
O tamanho e a taxa de crescimento dos cistos nos exames de acompanhamento podem ser utilizados como indicadores para a ressecção. Se não houver características preocupantes na RM e na CPRM [41], a RM deve ser repetida inicialmente após 1 ano e, posteriormente, 2 anos.
Foram observadas algumas discrepâncias quanto à forma de ser tratada a vigilância em pacientes com lesões pancreáticas pré-malignas císticas. Uma revisão sistemática e metanálise de Choi e col. [46], parecem indicar que a incidência de progressão de uma NMPI de baixo risco (sem envolvimento do ducto pancreático principal ou nódulos murais) para câncer é de 1,4% aos 3 anos, 3,1% aos 5 anos e 7,7% aos 10 anos. Os valores são maiores para as NMPI que têm algumas características de risco: 5,7% em 3 anos, 9,7% em 5 anos e 24,7% em 10 anos. Os autores recomendam a continuação da vigilância a longo prazo para todos os tipos de NPI [46].
Indicações para cirurgia [5,48]:
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